sem chuva
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31/08/2023
30/08/2023
29/08/2023
Distopia
Bem sei, olhando pra minha cara
tão evidente, que passei a noite
em cotovelos sob os olhos.
Em quanto, sobre o vinho perdido,
ainda inutilizando os sentidos,
abrias um bocejo de ressaca
e deitavas a cabeça no copo vazio.
Só eu vi desabrochares,
de mares submersos em noites agitadas,
extintos paraísos
com o rosto amargo do amor.
(flutuações e colagens com versos de Cecília Meireles)
28/08/2023
Friso. Delicadez antiga,
telúrica, primaveril, não propriamente o arabesco (esse é muito abstrato, platónico, de padrões extraídos por dedução das formas naturais. Atingem uma densidade simbólica muito elevada, mística também, mas perdem a graça da seiva, a frescura das folhas vivas, dos cachos de uvas ou de flores).
Não, essa delicadeza antiga respeitava acima da forma a vida,
flutuante
(no título escrevi "delicadez" de propósito)
27/08/2023
Fica bem, arrumada na parede branca, logo quando se entra.
Mas tiras-te-lhe a cor e ela também ficou sem vida.
Como a bela parede branca
Onde o sol vem deixar a cor
Do ouro ao fim do dia.
26/08/2023
25/08/2023
24/08/2023
A mãe
Vês um rosto: não passa. Voltas e re-voltas, invertes e pervertes. Aquele olhar e a expressão do rosto inteiro fica. Instiga. Tiras a foto: foge ao tempo.
23/08/2023
21/08/2023
Vozes arcaicas
Chamam por mim
Vozes arcaicas,
Origens obscuras,
Sem registo
De batismo
Na correnteza
Dos impérios
E dos deuses.
20/08/2023
Essa palavra Graça,
assim com maiúscula e não sendo o nome
da mais bela que passa,
não tem mediação verbal: é a tangência imanente
de tudo quanto se ergue e faz sorrir.
Por isso é também o nome
da mais bela que passa.
Cais de não haver mar
O amor e o conhecimento não se dão sem uma abertura ao imprevisto, uma inocência infantil ainda. Nesse instante, as pessoas são como cais de não haver mar. O mar irrompe depois, a maré cheia alaga os neurónios da perceção. Quando voltamos a sentir um vazio, nem sabemos muito bem o que se passou. Tudo o que tentamos em seguida costuma ser só uma tentativa de explicar, ou de recuperar, ou de compreender intelectualmente o que, para acontecer, só foi possível em estado de infância e de virgindade ~
19/08/2023
Passaram reis coroados de couro -
o eco do corpo,
súbito pássaro
no próprio vento
por altas nuvens
silenciado
(brincadeira com versos dos poemas Metamorfose e Despedida, de Cecília Meireles, Viagem)
18/08/2023
Se é possível ser e não-ser ao mesmo tempo,
talvez falemos do Espírito, uma espécie de sopro que percorre o universo e nós próprios, uma espécie de vibração que atravessa todas as dimensões e, portanto, está na matéria e na não-matéria, perpassa nelas ou também participa delas. Nesse caso, o Ser não é Ser e não-Ser, é só Ser. O que é o Espírito?
- muito abstrato, me dirias, em prosa dura. Mas como pode ser abstrato aquilo de que falamos sem nunca termos visto e nunca deixarmos de falar nisso? Como dizem na tua terra e sabem os índios: não há fumo sem fogo. Não lutes com a tua sombra.
(excertos do Comgresso)
17/08/2023
16/08/2023
15/08/2023
14/08/2023
Vibração
- podemos medir e tirar a média (frequência, posição, ritmo, intensidade), mas uma vibração é só feita por oscilações e nós somos uma vibração
13/08/2023
A explicação satisfatória
é aquela que nunca se separa do objeto. Miticamente, ficam tão ligados que a mais mínima palavra significaria quebraria, criaria diferença, vincaria separação do discurso relativamente ao seu foco.
Nesse caso, fiquemos em silêncio por um tempo