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Muralhas de Évora

"muralha fernandina" - muda, quase muda, um pouco de verde alivia a vista - mas, afinal, tantas estórias para contar...


 

29/07/2023

Uma leve ondulação, textura

mínima de viagem, vaga música
íntima e externa, palpável


 

Substância em movimento

"Não pode conceber-se, verdadeiramente, qualquer atributo da substância do qual resulte que a substância possa ser dividida"



 (B. de Espinosa, Ética - De Deus, trad. Joaquim de Carvalho)


27/07/2023

Quarto crescente,

não busques, no mar do esquecimento,
adormecer um sonho triste, nem garimpes
nas areias a recordação. 
Compreende que 
nada existe para responder 
a perguntas como: "por que vim?"

Estás aqui, isso é tudo. 
A vida completa 
está contigo aqui.


 

25/07/2023

Domicílio e exaltação


serena; sabedoria e conhecimento, 
enquanto Ísis entrega a Horus 
o seu copo de ambrosia:


 

Tudo isso e mais além


de grãos de areia, peixes, conchas, águas, espumas gritantes...


EM VOZ BAIXA

SEMPRE que me vou embora
é com silêncio maior.
As solidões deste mundo
conheço-as todas de cor.

Desse-me a sorte um cavalo
ou um barco em cima do mar!
Relincho ou marulho - alguma
coisa que me acompanhar!

Mas não. Sempre mais comigo
vou levando os passos meus
até me perder de todo
no indeterminado Deus.

(Cecília Meireles - Vaga música)


 

23/07/2023

Mitos à parte - está frio -


o que temos aqui? A transformação dos mortos em larva?




 

22/07/2023

Desfez-se

A avó dela era cartomante. Fomos lá para que falasse do nosso futuro a dois. A cartomante pediu-me um diálogo a sós. Acedi. Fomos esgrimindo subtilmente magias e truques, alguns de linguagem só. No fim despedimo-nos como se devem despedir dois guerreiros que verdadeiramente combateram: com respeito um pelo outro. Quando saí, perguntava-me a neta, com olhos inquiridores, o que ela tinha profetizado. Engoli em seco. Não falámos nisso. Esqueci-me de lhe perguntar. A neta, perplexa e desiludida, pareceu recobrar o sentido de oportunidade da família: cobrou? Nada. Esqueceu-se de cobrar. E fiquei, porém, com a sensação de que ambos - eu e a cartomante - nos conhecíamos muito bem. 


 

20/07/2023

Lavava, com os olhos húmidos,

o pavimento molhado
aguçando nas pupilas 
desertas as pernas finas
da cidade esvaziada
(continua, mas não sei onde nem quando)


 

De certo modo, o natural

é que a abelha vá buscar o mel...


 

17/07/2023

Proteger


alcançar


(Évora)

 

16/07/2023

Mar sem corsário

nas brancas árvores da noite


 

15/07/2023

Anjos suspensos

na noite sem asas


 

Chimarrão do mar,

para coar a brisa e o voo
dos pássaros, acordar 
a manhã


 

10/07/2023

O mundo sai do caos todas as manhãs

(Leonardo Coimbra, A alegria, a dor e a graça)


 

07/07/2023

Já se contavam alguns minutos depois das 7 horas da manhã

quando sobrevindo 
uma rajada 
de vento mais forte 
se viu cair o Mastro
quebrando-se em duas partes
e as embarcações
pequenas foram
ao mar despedaçadas


(Elias Alexandre da Silva Correa, História de Angola)

 

04/07/2023

Do rio que arrasta

 às margens que o suprimem

sobreveio a notícia



03/07/2023

Lembras-te quando pastávamos olhos

livres na pradaria? Colhíamos maçãs
entre muros de pedra esboroando-se ao longe num ritmo vagaroso -
que chamarias natural.
Alguns caminhos imprecisos refulgiam de verdes vivos.
As enxadas há muito calavam, sob o sol ressecado no suor humílimo do calendário.

Já ninguém trabalhava.

Parávamos longe das fazendas abandonadas, 
entre a floresta e o lago espelhado.
A mais suave brisa limpava, carinhosa, rútilos diamantes irrequietos 
nas folhas das árvores,
ouvindo os cantos de pássaros esvoaçar.

Éramos felizes sem saber.

Recordo-me do nome
que foi dono desses bosques. Um casal envelheceu
retirando-se para a casa da aldeia 
enquanto as altas pedras se cobriam de neves brancas 
e deixavam de cantar. 

Lembras-te? Quando pastávamos olhos na pradaria?
Ali o frio nunca nos visitou.


 

02/07/2023

Naquele tempo


em que julgávamos ter dito tudo