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30/05/2023

Uma longa tradição,


a rede instável no mar de areia, 
a teia de peixes em nuvem na rede,
cozer o mar à luz e lavar 
o saco dourado da lua
em espuma dinâmica e breve - 
uma antiga tradição.


 

29/05/2023

El tacto de la luz -

Venimos de un fulgor y pretendemos
reconquistar su brillo en permanencia.


(Emilio Rodríguez, in: revista Papeles del Martes, nº 32, primavera de 2004, Salamanca, Espanha)

 

27/05/2023

Conversa miúda e água pródiga

no recurso múrmuro, persistente

(flauta suave na sombra escassa

de uma terra esquálida e melancólica)



resquiecat in pace, Margarida Morgado:

"dentro de mim há um sem palavra
impossível de nomear
nele desaguam os rios sem leito
onde bebem bichos errantes
pássaros perdidos do bando
na hora de emigrar"

 

25/05/2023

Um rumo, um destino,

em cima disso os pássaros olham para a luz no chão e sabem que vão voar, desconhecendo
o frémito cósmico em Victor Hugo, ou mesmo
o pescoço elegante das gazelas.


 

24/05/2023

Elas falam, as nuvens,


"para caminhar a segunda das vidas,
o segundo turno de madrugadas"


(dois versos de Iolanda Aldrei em «Dia Primeiro», poema de O Segredo de Sheela na Gig)

 

22/05/2023

Espaços fechados


colhidos em V. Hugo:

Comeste a fruta
sem recordar as raízes.
A vida é uma frase
interrompida.


 

21/05/2023

Segundo a luneta mágica dos arménios,

a exageração degenera os sentimentos.


Na igreja do diabo, Machado de Assis assegura ter ouvido isto:




 

20/05/2023

18/05/2023

17/05/2023

Músicas e despojos coloniais

O major António Leite Mendes faleceu em Benguela, Angola, em abril de 1873. Entre outros pertences guardava uma flauta no valor de 2000 réis, dois jogos de xadrez e um tabuleiro de Damas.

O comerciante José Francisco Rodrigues Gomes faleceu em Novo Redondo (hoje Sumbe, Quanza-sul, Angola) em 1866. Possuía "uma guitarra usada" e "outra sem cordas", a par de "volumes de ordenações do Reino".

O rico negociante Pietro Santy faleceu na Catumbela (Benguela, Angola) em setembro de 1885. Entre pertences e bens à venda possuía uma caixa de música, um piano de manivela, "Cartas de A B C" (13, avaliadas em 260 réis) e "Cartilhas pequenas" (23, avaliadas em 460 réis). Ainda possuía quadros e um telescópio.

Em 1888, na rua da Praia, na mesma Catumbela, falecia Manuel das Candeias Silveira São Roque. Deixava à posteridade 15 livros e "uma armónica". 

No ano seguinte, na cidade de Benguela (Angola), José Luís Gonçalves falecia com "uma harmónica," para acompanhar "alguns livros" e "jornais de ilustrações". 

Leonardo Teixeira Marinho faleceu em 1894 em Benguela (Angola). Deixou 5 "harmónicas", "uma porção de gaitas. Uma caixa de música."

Abílio Ângelo de Azevedo Saraiva morreu na mesma cidade em 1899. Deixou-nos 3 quadros e "25 gaitas de boca".

Nesse mesmo ano e cidade falecia também Francisco Marques Queiroz. Tinha consigo "uma guitarra usada."

Na música da vida, ornavam de rosas o altar da morte.


 

16/05/2023

O beijo

Rumo ao búzio
na languidez do sul
desço os últimos degraus
e sorvo a espuma de luz


 

15/05/2023

Dizia o crítico literário que

o lirismo poético tinha origem em momentos de tranquilidade. O Verão terminava. A literatura passava a constituir a renomeação do vazio. 


 

14/05/2023

Tu já não sentias o cansaço,

Na curva do atalho a sombra fresca

Das estrelas mornas e distantes.

Abria-te o sol que já não víamos.



 

12/05/2023

Ao fim de tantos anos de distância


eu aceito que fomos de certo modo imprudentes.

(Inácio Rebelo de Andrade, Saudades do Huambo: para uma evocação de Ernesto Lara Filho e da «Coleção Bailundo»)


 

11/05/2023

Naqueles anos, a República

era uma mulher de uma beleza inebriante e luminosa,
era uma espécie de orientalismo, com suas formas voluptuosas,
redondas, graciosas, em viço e cor
no que diz respeito às flores de coral. Os lagartos
gordos abandonavam tronos insubmissos
por escutarem seus passos firmes, ligeiros e suaves.
Os tigres malhados iam para as aldeias distantes
tecer loas aos imperadores na bainha de uma espingarda
inglesa. E nós ficávamos a vê-la, a torneá-la
com as mãos, porque sabíamos da água
no fundo do poço.


 

10/05/2023

Sobrelinha


Toda-via, a natureza da Obra torna infrutífera essa linha de pesquisa, sendo claro que a rota vai da esquerda para a direita na sobrelinha das nuvens.


 

09/05/2023

sinalização

cuja brancura, rutila de dia,
o luar dulcifica, feeria
...
Da luz, do Bem, doce clarão irreal

(Camilo Pessanha)


(não olhes para trás)
 

08/05/2023

Podia ser uma exceção

podia vir atrasado,
ou ter levantado voo.
Mas ali estavam todos,
para além do rasto
e da fronteira de água.
Como sempre, alimentando-se
com a luz do dia. 


 

07/05/2023

O regresso do Oriente


a enrolar a esteira


 

06/05/2023

Lápis lazuli -

na linguagem dos pássaros


 

05/05/2023

Eram antigas,

mas não velhas. Estavam vivas.


 

04/05/2023

Nem sempre há escolha -

"Truth is not the result of choice, nor is it made up of opposites. There is no choice when there is integrated attention."

(Krishnamurti)


 

03/05/2023

Bifurcação

inútil! Calmaria. Já colheram
as velas. As bandeiras sossegaram

(Camilo Pessanha)


 

02/05/2023

Timeu (a Sócrates)

 "somos de natureza humana, de tal forma que, em relação a estes assuntos, é apropriado aceitarmos uma narrativa verossímil e não procurar nada além disso"



01/05/2023

Quase tudo

o que não fica