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24/03/2010

oráculo incompleto

Por acidente
Fundeámos a cidade
Nos escaparates salgados das espraiadas lagunas
Voltadas a ocidente.
Por acidente sobre a ombaka
Onde pernoitara a caravana
Do soba mais velho.
Nesse crepúsculo vespertino
A terra disse:
Bem-vindo à boca. Abre-se
Para que vivas e para que morras
E sabe, só ela sabe,
Quem são os donos do lugar,
Quais são os nomes do lugar,
Os que dominam sobre as areias de ouro
A ciência do lugar.

17/03/2010

tomás jorge frederico garcía lorca

1
García Lorca
Irmão da Europa
Irmão do Mundo
Iremos a Santiago de Cuba
Como ciganos da vida
Como ciganos da diáspora
- Toda a Humanidade é diáspora
Dispersão contínua
Hoje aqui amanhã mais além

Iremos a Santiago de Cuba
Onde África também mora
Na voz bailada de seus filhos
                   Que igualmente:
Engrandecem as Américas

Iremos a Santiago de Cuba
Vivos ou defuntos
Os motos também cantam
Nunca perdem a voz do estro
Iremos cantando novidades

Iremos cada vez mais livres
Cada vez mais poetas
Cantando a Liberdade
Como homens que têm
A solidariedade no peito
             Hino e bandeira
 De todos os povos do Mundo

mário novais acervo gulbenkian c/1954

(torre de menagem do Castelo de Beja, misula de sustentação - fonte: acervo gulbenkian no flickr)

acervo gulbenkian de fotografia

(Estúdio Horácio Silva, Acervo FCG, disponível no flickr)

10/03/2010

josé luís mendonça os poetas não vão para o céu

                             na morte de Alda do Espirito Santo


Os poetas não vão para o céu
eles já estão no céu
mortos para o plágio desta vida
como se ninguém mais soubesse

chamar as coisas pelos nomes
que sem querer os transformam
no prumo das portas ouvindo
cantigas de roda ao luar.

Os poetas não vão para o céu
eles já estão no céu
com seus olhos cegos abrindo
o novelo das palavras por dizer.

Por isso os poetas não morrem
se transformam simplesmente
no esplendor desse dia
que cresce entre as linhas da mão.

Montados no pégaso do universo
aparecem às vezes no umbral da via láctea
e a sua mão toca a dimensão do nada
para amealhar os cristais do movimento.

José Luis Mendonça, in 'Um Voo de Borboleta no Mecanismo Inerte do Tempo' (INALD, 2005)

spleen rádio macau

Há dias assim,
cheios de aventuras
entre a espada e a parede.

São dias de spleen
com lua assassina
à espera da vida
à espera de quando
a manhã chegar
no reverso do amor
e levar o que todos
temos de são 
e de loucos.


josé luís peixoto nenhum olhar

... e, no entanto, vê "toda esta planície superior ao tempo. Esta planície profundamente triste, enterrada na sua própria eternidade", vê "esta luz indefinida a definir as coisas".

antonio rebelo


(foto de António Rebelo, intitulada 'ao pé do rio # 2, extraída ao blogue 'janela indiscreta', entretanto extinto por vontade própria)