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toyin adewale gabriel frescas madrugadas fresh dawns

Há lacerações.

Mas deveríamos salvar as nossas feridas Acalmar esta tempestade de areia, serenar este ciclone Este tornado sobre nós Devemos abrir de novo os livros de registo. E deixar cantar os nossos pés Desde que tenhamos caminhado no encalço da luz buscando provas e altivos feitos Crescendo e orgulhosos como uma águia em voo.

(trad. Conceição Deus Lima; poema enviado por Cátia M. Costa)

femi fatoba poeta nigeriano

Aqueles Poucos Afortunados/ Those Lucky Few

Eu sou um daqueles poucos afortunados Que não tem o sentido do cheiro. Quando o chefe exige E dorme com a minha mulher Ela que venha para casa para um banho E vista as suas melhores roupas Uma festa de promocão não cheira. Quando levo a minha mãe ao curandeiro Para o ritual do dinheiro Como podem esperar que eu me lembre Do cheiro de um cordão umbilical Cortado há vários anos Ou do sangue que une Quando eu uso o crânio do meu irmão Para o sabão AWURE? Eu não cheiro O arroto de fome da criancinha Quando lhe arrebato a comida Para dar ao meu cão. Eu sou um daqueles poucos felizardos Que perdeu o sentido do cheiro.

Tradução de Conceição Deus Lima (São Tomé) (nota: AWARE - feitiço protetor)

políticas comparadas

Andei a estudar longamente políticas comparadas. Por exemplo estudei a criação da ASEAN, da OUA, da OEA e da UE. Cheguei à curiosa conclusão de que o pan-africanismo é co-responsável pela criação da União Europeia. Logo, é necessário que os europeus se descolonizem culturalmente e estudem cada vez mais as suas identidades, regressando à primeira colonização do sub-continente europeu. Se estiverem com dificuldades, peçam ajuda ao Luís Kandjimbo.

poetas nigeriana(o)s

Excelente e despretensiosa tradução de poetas e poetisas nigerianos(as) feita por Conceição de Deus Lima. O endereço onde se encontram foi-me enviado por Cátia Míriam Costa: http://uk.groups.yahoo.com/group/saotome/message/18460

21/05/2009

19/05/2009

ala marginal

Uma boa surpresa o 'blog' caboverdiano ala marginal. Vale a pena passar por lá.

MACBA

Museu de Arte Contemporânea, Barcelona

16/05/2009

12/05/2009

sombrero 1

Todos os dias próprio e diferente. Hoje as nuvens formam uma cadeia de montanhas de um azul indefinido pouco acima do morro. A cadeia prolonga-se para o mar deixando atrás o morro, tem limites mal definidos, numa conjunção de cores desde o roxo até ao amarelo vivo, resto de sol curioso a espreitar ainda a vida. O morro ganhou uma cor castanho-cinzento. A estrela da tarde pisca para a esquerda do sombrero e o morro entra ondulante nas águas escuras já, plúmbeas ainda que piscadas, aqui e ali, por pingas de cores variadas próprias do fim dos dias. A esplanada faz tocar finalmente uma música ondulante, uma cúmbia antiga em vozes altas. As vozes das pessoas aproXimam-se e afastam-se como náufragos no fundo sonoro das ondas roxas espraiando-se mais abaixo. Levanto os olhos: a mesma variedade de caras mais e menos tisnadas, uns empertigados, outros arrogantes, umas sorridentes, outras equivocadas, muita exibição, muita hesitação, faces a perder e a ganhar o gosto pela vida. Levanto mais a vista. Escurece definitivamente. O som vinha afinal do ecrã gigante. Era um vídeo musical de um grupo africano. Aliás angolano: agora cantam em quimbundo, agitam-se manifestando uma energia extraordinária mesmo para o ritmo da música; saltam no estúdio, numa postura mal disfarçando a sua artificialidade, depois aparecem fardados de nativos num terreiro do mato a dançar com uma grande harmonia e equilíbrio. Passa um carro a fazer barulhos de aço e ácido e rasga-nos o pensamento. Uma mulher fala mesmo atrás de mim com voz brutal, muito alto, como se a dirigisse a alguém do outro lado do Saara. Bate em alguém com a voz, embora não diga nada lexicalmente agressivo. Respondem-lhe baixinho e ela zanga-se: fala com vida, porra! O cantor continua indiferente a mostrar-se enleado com a sua própria música. Pirim, pilim... Ri de nada, não pára de mexer-se continuamente virado para a câmara com os dentes muito brancos para cumprir o estereótipo. Um mosquito impertinente não me larga. Um amigo interrompe-me. Sorrio placidamente como se tivesse fumado 500 kg de maconha na última semana. Fecho o caderno. Penso na falta que me faz a máquina fotográfica. Mas que cara de imbecil! A música é um semba agora, com a voz rouca de um cantor antigo. Olho uma última vez o céu. Fechou-se. O cantor cala-se. Fica no ar um coro fresco, leve, circular, de mulheres de voz suave e meiga. Depois calam-se também. Ouço um batuque e um acórdeon. Nyõ! Seria o quê? Tchau. O mosquito acaba de morder-me.

antropologia da fotocópia

"O branco, esse? Não. Esse é outro. Compra fotocópias"